domingo, 9 de abril de 2017

Sobre a Educação... ou a arte de sacudir a poeira para cima do outro!

Acredito que é "desde pequenino que se torce o pepino". Ou, por outras palavras, é em casa que a educação começa. E digo "começa", porque também acredito que é na escola e na sociedade que se continua. O formador tem um papel fundamental na educação e aquele que julga que o seu trabalho está circunscrito à transmissão de conteúdos está, sem dúvida, na profissão errada. Mais: todos deveríamos ter a obrigação de "educar" para que o civismo exista desde cedo.

Educação
Photo: Diário de Notícias (online)

Mil estudantes portugueses foram corridos de uma unidade hoteleira em Espanha, por comportamento e atitudes de falta de civismo. Senti-me envergonhada como portuguesa, porque estamos a falar de jovens no 12º ano, ou seja, todos com/a fazer 18 anos, ou seja, a atingir a maioridade para se tornarem cidadãos plenos na nossa sociedade. Senti-me envergonhada como formadora, pois aqueles poderiam ser os meus formandos e, por conseguinte, eu só poderia estar a fazer um péssimo trabalho nas competências que deveriam estar a ser trabalhadas. Senti-me envergonhada como mãe, pois poderia estar ali a minha filha e eu teria falhado redondamente no meu papel de "primeira educadora". Até porque uma palmada bem dada na hora certa só traz benefícios e não deve ser confundida com violência gratuita.

Esta é uma história que ainda fará correr rios de tinta, mas como tantas outras irá cair no esquecimento e tudo continuará a ser igual. Pelo menos, até começarmos a ganhar consciência de que este é um trabalho conjunto e ninguém se pode demitir do seu papel. O que fizeram em Espanha, fazem todos os dias em Portugal. E este é um problema que diz respeito a todos...
  • Aos pais que precisam trabalhar de manhã à noite, neste país que privilegia a quantidade (de horas de trabalho) e não a qualidade (da produção), e que se tornam ausentes da vida diária dos filhos, procurando atenuar essa falha com cedências e retribuições materiais. Eles percebem rapidamente que tudo é fácil e (quase) garantido; e se não são repreendidos (a sério) pelos pais quando cometem erros, mais ninguém tem o poder para o fazer.
  • Aos pais que tentam manter os filhos em bolhas esterilizadas e/ou acreditam que educar é uma ciência perfeita, por isso evitam a todo o custo que os jovens contactem com realidades "desfavorecidas", que desçam do 100% para o 98% (nem que isso implique horas seguidas de explicações) ou que tenham o mínimo comportamento inadequado (quanto mais calado e parado, melhor). Eles aprendem rapidamente que é tudo uma questão de aparência; longe dos pais, são os que "pintam a manta à grande", primeiro porque é novidade, depois porque há liberdade. E os estragos não são um problema, pois os pais pagam...
  • Aos professores que apenas estão preocupados em "professar" os seus conteúdos, que consideram que não lhes pagam para educar os filhos dos outros e/ou que entopem os jovens com trabalhos de casa (apenas para acelerar o programa que tem de ser cumprido, num país que adora quantificar e não avaliar). Eles rapidamente percebem que ao desestabilizar vão ser colocados fora da sala, por vezes sem destino, por isso ganham um descanso extra; outras vezes, vão ter de ir para a direção, onde ouvem um sermão pré-definido e rápido (há muita papelada para preencher e assuntos burocráticos para tratar), fazem um ar de profundo arrependimento e pedem muita desculpa - ganham um descanso extra ou têm de voltar à sala, para onde caminham lentamente, aproveitando para no percurso ir ao bar comer qualquer coisa ou ver as novidades no Snapchat. E ainda ganham estatuto de herois na turma...
  • Aos professores que se preocupam apenas com os "seus"alunos e, perante comportamentos inaceitáveis de alunos de outras turmas, preferem não intervir, pois não têm nada a ver com aquilo. Além disso, já há tema para a hora da cusquice com os colegas, de que os alunos do professor X são os piorzinhos da escola. Eles rapidamente percebem quando a equipa pedagógica está fragmentada e quem são aqueles que não querem saber - resta-lhes aproveitar...
  • A todos aqueles que vivem em sociedade e, perante comportamentos desajustados dos nossos jovens em plena rua, não intervêm, ficando a criticar baixinho ou em conversa de café. Eles rapidamente percebem que podem fazer o que quiserem, sem repreensão seja de quem for. Além disso, se ninguém repreende, se calhar até nem estão a fazer nada de mal...
Educação
Photo: Diário de Notícias (online)
É óbvio que esta não é a fórmula mágica para resolver o problema, até porque ela não existe. E certamente muitos poderão argumentar que, por vezes, até fazemos o nosso papel, mas a personalidade deles é assim e contra isso nada conseguimos... Mil estudantes em dois dias?!! Acho que o número é expressivo para que esse argumento seja apenas mais uma desculpa para nos demitirmos do nosso papel. Sem dúvida, que a personalidade tem o seu peso e é isso que os (nos) diferencia, mas se todos tivermos o compromisso da educação, acredito que estes casos de "personalidade vincada" sejam facilmente controlados. E asneiras todos vão fazer; aliás, esperamos que façam mesmo, pois é através das asneiras (deles e dos outros) que também educamos.

Não estamos apenas a educar jovens. Estamos a educar o futuro do nosso país.

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