Sexta-feira, 20/11/2015, 7h40.
Primeira aula do dia.
'Stora, a ONU declarou oficialmente a 3ª Guerra Mundial contra o Estado Islâmico...viu ontem nas notícias?!
Durante uns míseros segundos, a minha mente (ainda a chorar por cafeína) foi assolada por várias questões antes de poder reagir:
...Uma guerra contra quem?! Mas o Estado Islâmico é um país...desde quando???
...Realmente não tenho tido tempo para acompanhar as notícias e ontem foi mais um desses dias (vergonha, eu sei)... mas será que isto é mesmo verdade?!
...Onde é que raio viram esta notícia?!
A última questão já saiu em voz alta.
Na Net, 'stora!
Aahhh! A Net! Esse lugar cheio de verdade e rigor...a Bíblia dos tempos modernos!
...E na SIC Notícias, 'stora!
Aqui, sim, conseguiram a minha atenção! Na SIC Notícias?! Não é que goste muito do canal...mas não queria acreditar que faltasse o rigor jornalístico a quem se assume como profissional na área...
Várias vozes já se levantavam a "confirmar" a notícia: que viram, que ouviram, que era mesmo verdade, que já se contavam cinco países, que já cumpríamos os requisitos para declarar guerra mundial...
Com a sala a "panicar", eu só pensava no ridículo que era utilizar o termo "requisitos" para declarar uma guerra mundial por parte de uma organização que nasce das cinzas da 2ª Guerra Mundial... [Penso: se eliminássemos algumas palavras do nosso vocabulário, talvez conseguiríamos evitar muitos problemas.]
Ok. Então, assumindo que possa ser verdade, vamos começar por confirmar no site da ONU...
Acedi e... nada. Aliás, a notícia em destaque referia mesmo um cessar-fogo: "Syria: UN envoy cites possibility of ceasefire, future political framework to end conflict". Logo aqui dava para desconfiar...não?!
Seguiram-se algumas publicações nacionais: Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Público... nada. Até o Correio da Manhã (tal não era o desespero...): nada. SIC Notícias: nada (ufa!).
Rapidamente se dissipou o alvoroço: a ideia de uma 3ª Guerra Mundial foi afastada em breves minutos.
Esta poderia ser apenas mais uma pérola daquelas que gosto aqui de partilhar, se não tivesse ficado a pensar neste breve, mas significativo espetáculo. Mais: se não tivesse ficado preocupada com o aparato que circulava para além desta sala de aula.
O terrorismo entra pelas portas que lhe são oferecidas e a comunicação é a maior delas todas. Hoje deixou-se de pensar, deixou-se de refletir sobre o mundo à nossa volta.
Teremos já todas as respostas que precisamos?
Absorvemos tudo o que nos é dado, sem analisar, sem questionar, sem pensar. Somos meras máquinas replicadoras.
Haverá melhor canal de comunicação do que este para quem quer difundir uma ideia...ou simplesmente o terror?
O tão falado combate ao terrorismo começa aqui: na comunicação.
Cabe a cada um de nós travar este descarrilar de informação, cabe a cada um de nós soltar as amarras que nos prendem a meios de comunicação que conduzem todos os dias, a toda a hora, um mundo inteiro na direção que bem entendem.
E nós não questionamos, confiamos cegamente, que nem marionetas num espetáculo de crianças. Pior: levamos tudo com o ânimo de uma criança, imune às atrocidades deste mundo. Porque atrás de um écrã podemos ser tudo: heróis, vilãos, bons samaritanos, assassinos. Independentemente do papel que decidirmos representar, a essência é apenas uma: ignorantes.
Teremos já todas as respostas que precisamos?
Não.
Apenas deixámos de fazer perguntas.
Passive, 2013 by Joey Klarenbeek @Candyland |
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